sábado, 25 de agosto de 2012

Taís Araújo: poder e pimenta

Aos 17 anos, Taís Araújo ficou em dúvida entre estudar odontologia, seguir a carreira de atriz ou comprar uma bicicleta. Escolheu a segunda e hoje reluz feito ouro na pele da protagonista de Viver a Vida. Aqui, essa guerreira de olhos faiscantes e rosto delicado fala sobre preconceito, garra, amor, cabelo cacheado...



Assim que Taís pisou no estúdio para as fotos de sua primeira capa de NOVA, em pleno domingo de dezembro, uma energia contagiante irradiou de seu sorriso e tomou conta do ambiente. A atriz de 31 anos, e mais de dez de carreira, se lembra exatamente do caminho que percorreu para chegar até aqui. "Eu não tinha em quem me espelhar quando comecei", conta. "Todos os atores negros eram mais velhos. Hoje, sei que garotas da minha cor olham para mim e sabem que podem sonhar mais alto. Isso tem valor social!", diz, orgulhosa de suas vitórias. Entre elas, encarnar na novela global das 9, Viver a Vida, a oitava Helena de Manoel Carlos - e a primeira versão jovem entre tantas que o autor criou.
Carioca do Méier, zona norte do Rio de Janeiro, Taís é filha de pai economista e de mãe pedagoga. Sagitariana irrequieta, começou no teatro amador aos 11 anos. Aos 16, soube que a extinta TV Manchete abrira testes para a novela Tocaia Grande. "Fiz e passei!", lembra. Quando gravava as últimas cenas, tomou coragem e bateu na porta do diretor Walter Avancini para garantir uma vaga na trama seguinte, Xica da Silva. "Ele disse que seria bem difícil. E eu, que não estava certa se devia seguir a carreira de atriz, fazer intercâmbio ou tentar a faculdade de odontologia [ela é aficionada por dentes], desanimei." Quando já pensava em um plano B, foi chamada para interpretar a personagem principal. "Xica era uma escrava que conquistava liberdade e fortuna depois de se casar com um homem influente. O roteiro incluía cenas de nudez, e eu era menor. Sem falar que, na primeira versão, a grande Zezé Motta havia feito o papel. Só de pensar na responsabilidade, me arrepiava. Mas o diretor conversou comigo e com a minha mãe. Era uma grande oportunidade..." Taís gravou quatro cenas nua. Nos bastidores, lembra que teve até contagem regressiva para seu aniversário de 18 anos, quando estaria liberada para fazê-las. "Foi difícil, não nego. Mas também não me arrependo. Saí da experiência fortalecida e respeitada." Com um histórico desses, alguém tinha dúvida de que Taís conquistaria tudo o que quisesse e mais um pouco? A seguir, mais sobre essa mulher absolutamente de NOVA!



NOVA: Antes de ser famosa, sofreu preconceito?
TAÍS: Tem gente que sente vergonha de relembrar sua origem - não faço parte desse time. Tenho certeza de que meu jogo de cintura e bom humor para contornar as dificuldades da vida vêm dessa escola. Meus pais sempre batalharam para oferecer a melhor educação a mim e a minha irmã (hoje, médica). Quando fiz 8 anos, nos mudamos para um condomínio na Barra da Tijuca. Mas minhas lembranças de infância mais gostosas são do tempo do Méier: brincar na rua, pedir doce em festa de Cosme e Damião... Na Barra, os costumes eram mais refinados, as relações, menos calorosas. Fiz amigos por lá, porém uma de minhas mais próximas confidentes, a Paula, me acompanha desde a zona norte, há 29 anos!

NOVA: De onde você tira tanta força?
TAÍS: Um episódio na escola me marcou muito: uma menina veio perguntar se era a patroa da minha mãe quem pagava as mensalidades. Só havia duas crianças negras no colégio: eu e minha irmã! Na adolescência, nunca fui uma opção de paquera para os garotos brancos do condomínio. Ainda hoje as pessoas têm dificuldade de aceitar com naturalidade o fato de um negro ocupar o mesmo espaço na sociedade que um branco.

NOVA: Por tudo isso Helena foi um presentão?
TAÍS: Sim. A sinopse não exigia que ela fosse negra. Qualquer atriz de 30 anos poderia interpretá-la. Pensaram em mim - e não por causa da minha cor. É assim que a igualdade funciona! Gosto da Helena porque ela coloca as coisas sob a perspectiva correta. Todos passamos por momentos ruins, mas é certo deixar que um trauma governe sua vida, suas decisões? Graças aos meus pais e aos meus professores, aprendi a não aceitar menos do que sonhava para mim. Ergui a cabeça e fui à luta, sem medo do que encontraria pela frente.

NOVA: Se não desse certo como atriz, tinha mesmo um plano B?
TAÍS: Quando decidi ser atriz, meu pai concordou com uma condição: que eu me formasse em outra área, como garantia. Todo mundo sabe como é difícil sobreviver de arte no Brasil. Escolhi jornalismo porque comunicação me interessa. Conciliava o curso de teatro na Casa de Artes de Laranjeiras pela manhã, o trabalho na tevê e a faculdade. Quase enlouqueci de cansaço, cochilava no carro. Levei oito anos para me formar. No fim, foi ótimo. Exercitei muito minha porção jornalista apresentando o programa Superbonita [no canal GNT, por três anos].


NOVA: E você é supervaidosa?
TAÍS: Sim, mas não gosto de escravidão. Esse negócio de "ter que" que passar creme todo dia, "ter que" sair maquiada por aí… Sou pouco disciplinada. Então, o que eu faço é lavar o rosto com um bom sabonete, hidratar e passar filtro solar. Tudo manipulado pela dermatologista Karla Assed [a mesma de Patrícia Poeta e Deborah Secco] especificamente para meu tipo de pele, que tende a ser oleosa. Também passo hidratante no corpo. Adoro maquiagem, mas meu kit se restringe a corretivo, máscara para cílios, blush e batom.

NOVA: Nunca um cabelo encaracolado foi tão comentado. Como cuida dos cachos mais desejados do país?
TAÍS: Em nome da arte, já fiz miséria com a cabeleira: alisei, tingi, alonguei... É um alívio poder exibir um visual mais natural. Dá para apenas lavar os fios com xampu para definir os cachos, ensopá-los - exceto a raiz - com um leave-in hidratante e secar com difusor. Os caracóis ganham forma em um piscar de olhos. Quando preciso de um penteado prático, puxo tudo bem rente ao couro cabeludo e prendo num rabo de cavalo médio. Vivo feliz da vida sem me preocupar se a escova vai estragar, se está ameaçando chover... Que liberdade! Verdade que algumas mechas são aplique, um recurso para ganhar comprimento. A cor é um mix de marrom frio e loiro médio. Estava mais escuro no início da novela. Agora, deu uma iluminada, o tom está quente. Adorei!





NOVA: Você emagreceu bastante para este papel. Qual seu truque?
TAÍS: As mulheres da minha família têm tendência a engordar. Algumas tias e primas pesam mais de 100 quilos. Para driblar os genes traiçoeiros, sempre controlei o que entra no meu prato. Passo longe de frituras e comidas gordurosas. Também não sou fã de leite e derivados. No mais, como de tudo um pouco - e o ponteiro da balança não costuma ultrapassar os 52 quilos. Mas, para interpretar Helena, que é modelo, quis dar uma afinada. Meu endocrinologista passou uma dieta que corta carboidratos após as 18 horas. No almoço, sempre tem uma porção de carboidrato, outra de proteína com legumes e salada à vontade. Os lanches da manhã e da tarde costumam ser uma fruta. Também intensifiquei a malhação. Eu, que não sou chegada em exercício, corri muito e tive de ir à academia todos os dias! Por fim, associei sessões de Ultrashape e Velashape, para exterminar qualquer gordura localizada. Acho que mandei embora uns 5 ou 6 quilos. Como sou baixinha [1,63 metro de altura], cada quilo perdido parece três. Aí achei que tinha sido demais. Então, recuperei um pouquinho. Agora me sinto ótima!

NOVA: Todo esse sucesso fica mais gostoso se curtido a dois? Você e Lázaro [Ramos, ator] reataram recentemente, não é?
TAÍS: Sim. E essa segunda chance só aconteceu porque há muito amor entre nós. Em um casal, os dois precisam estar comprometidos com a missão de manter o clima de romance. Parece simples? Para quem viaja o tempo todo por conta do trabalho e de quebra tem a vida vigiada por paparazzi, é uma aventura e tanto. Eu e o Lázaro sabemos que precisamos fazer um esforço extra. E a gente se empenha! Nada é capaz de me impedir quando decido entrar num avião e desembarcar em Salvador (onde ele grava a série Ó, Pai, Ó), mesmo que para passar uma única noite. Ele também me acompanhou durante as gravações na Jordânia. Nosso maior desafio é conseguir tempo para estar junto e a sós. Tanto para namorar, como para resolver as questões do dia-a-dia. Somos um casal como qualquer outro.


NOVA: E o que foi determinante para a volta?
TAÍS: Conquistamos um equilíbrio raro, como duas peças que se encaixam perfeitamente. Lázaro é meu companheiro de todas as horas. Sou uma pilha de ansiedade. Mas quando estou a ponto de um ataque de nervos, lá vem ele com a maior paciência do mundo colocar meu pânico sob controle. Ao seu lado, enxergo tudo com mais clareza. Tem o lance da química, sim, mas até isso precisamos alimentar com atitudes certas. Da minha parte, cuido para ficar atraente aos olhos dele. Coloco a roupa de que ele gosta, o perfume... No fundo, toda mulher quer ser admirada pelo seu marido ou namorado. E eu estou nessa turma também!

NOVA: Qual sua marca registrada de sedução?
TAÍS: Meus vestidos. Tenho vários! Tomara-que-caia, justinho, solto… Além de ser uma facilidade poder me produzir com uma peça só, me sinto muito feminina. Nenhum outro modelo valoriza tanto as formas do corpo de uma mulher! 

NOVA: O que você sabe sobre sexo hoje que não sabia aos 20 anos?
TAÍS: Aos 20 anos eu não sabia nada [risos]. Mas aprendi que intimidade e cumplicidade são fundamentais para o sexo ser bom.

NOVA: Qual seu maior desejo para 2010?
TAÍS: Quero construir uma família. Depois que completei 30 anos, o desejo de ser mãe bateu com força total. Penso em ter um filho e adotar outro. Profissionalmente, espero fazer cinema e me arriscar cada vez mais no teatro, que me desafia muito. Quem sabe com o Lázaro na direção? Não seria nada mal unir o útil ao muito agradável!


Fonte: Nova

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